O RELACIONAMENTO DOS CONCEITOS COM O GRUPO

” O RELACIONAMENTO DOS CONCEITOS COM O GRUPO ”

Quando chegamos ao serviço, elemento vital para a nossa sobriedade, vemos que tudo começa no Grupo, e que “raramente vemos falhar uma pessoa que está fazendo o café”.
Comecei minha carreira de bebedor mais ou menos em 1960. Naquele tempo, eu não sabia nada a respeito de A.A. e, naturalmente, não me incomodava com isso, nem me importei por muitos anos.Outros, no entanto, se importaram, e o meu Poder
Superior também; assim, três décadas mais tarde, necessitei de ajuda e A.A. estava lá para me receber e uma vida nova começou. De início, a recuperação era a única coisa que importava: uma luta dia-a-dia, com alegria. Foi um tempo maravilhoso na medida em que gradualmente me tornei capaz de tomar conta da minha vida sem o álcool. Cedo fui seduzido totalmente pela maneira de viver em
A.A. e comecei a perguntar como essa Irmandade de alcoólicos foi formada e como ela funciona. Quando cheguei, estava bem certo de que havia lideres em A.A. e não levei muito tempo para descobrir que, com poucas exceções, esses lideres eram somente servidores de confiança. Comecei a ler e fazer perguntas. Consegui a maior parte das respostas em reuniões com amigos, eles me disseram, entre
outras coisas, eu deveria manter sempre em mente a consideração mais importante ao entrar nos serviços: “Nosso bem-estar comum deve estar sempre em primeiro lugar” e ” A consciência coletiva, guiada por um Poder Superior, de acordo com nosso entendimento – nossos líderes são servidores de confiança somente, não tem
poderes para nos governar”. Esta é a chave da sobriedade para os Grupos e para o Individuo. Em todos os Grupos nós trabalhamos e partilhamos juntos os Passos e Tradições – Recuperação e Unidade. Nós estávamos no triângulo de A.A. e estávamos felizes. Aprendemos cedo, no entanto, que a felicidade não duraria para sempre se nos esquecêssemos de que o triângulo tem um terceiro lado, o Serviço, que o mantém unido. “achar a porta fechada e o homem do café ausente numa noite chuvosa é desconfortável, mas uma experiência útil”. É tão simples como isso. Lá é onde tudo começa.

QUADROS NA PAREDE

Afinal, quem precisa de Conceitos?

Era bem cedo. Faltava quase uma hora para a reunião iniciar. Estava nos primeiros dias de minha recuperação e me foi sugerido que freqüentasse quantas reuniões pudesse e também que, se possível, chegasse mais cedo, para integrar-me as atividades do Grupo. Naquela noite conversava com um companheiro mais antigo
que se colocara a disposição para me ouvir e sanar minhas tantas dúvidas, quando lhe perguntei para que serviam os Conceitos. Eu já sabia que os Doze Passos eram relacionada à recuperação individual e que as Doze Tradições ajudavam na segurança do relacionamento dos Grupos entre si e com o mundo externo. Mas, e os Doze Conceitos? Aqueles princípios em letras miúdas e fartas estavam me
intrigando. O companheiro mirou os quadros, coçou a cabeça e respondeu de supetão: “Isso é coisa dos Custódio e da Conferência”. Não aceitei a resposta e, com toda a curiosidade de novato, retornei: “Se não dizem respeito ao Grupo, por que estão aqui, na parede?” E o companheiro embaraçado finalizou a questão:
“Estão aqui porque a Conferência recomendou”. Continuei sem entender, mas cessei a especulação. Foi assim meu primeiro contato com o Doze Conceitos para os Serviços Mundiais. Cerca de quatro meses depois, adquiri o livro dos Conceitos.
Agora acreditava estar apto para entender aquele negócio complicado. Li o prefácio, o Primeiro Conceito, o Segundo e … ao contrário do que esperava, minha cabeça começou a embaralhar a partir do Terceiro. A leitura me pareceu tão complicada que pensei em atirar o livro para longe e me lembrei do companheiro no Grupo:” Ele tinha razão”, pensei. Mas não iria desistir tão facilmente. Dias
depois participei de um Ciclo de estudos dos Conceitos. Foi lá que soube da existência do livro “Os Doze Conceitos Ilustrados para Serviços Mundiais.”
Adquiri o livro e, com muito mais facilidade, comecei a compreender alguma coisa dos Conceitos. Ainda não sabia que o livro “Os Doze Conceitos para Serviços Mundiais” fora escrito a menos tempo que eu pensava, em 1962, e que é o único item de nossa literatura escrito por Bill W. e que somente foi traduzido para nosso idioma em 1982. Não tardou para que eu conseguisse ler o texto completo dos Conceitos, sem ter tanta dificuldade de entendimento. Li uma, duas, várias
vezes para entender algumas particularidades de cada princípio e venho aprendendo muito tentando colocá-los em prática nos serviços de A.A. Quanto ao comentário do companheiro no Grupo, formei opinião e tento dizer diferente aos que chegam hoje. Descobri o porque dos Doze Conceitos estarem afixados na parede de (infelizmente) parte dos Grupos que freqüento. É que os Conceitos são o “lubrificante” dos relacionamentos necessários para que funcione em harmonia toda a estrutura de serviços de A.A.. Ou seja, bons relacionamentos do Grupos Conferência, entre a Conferência e a Junta de Custódios e entre a Junta e os Órgãos de Serviço Nacionais (a JUNAAB) no caso do Brasil com seus servidores e
funcionários contratados. Hoje entendo que os Conceitos não servem apenas aos componentes da Conferência de Serviços Gerais. Portanto quando disse toda estrutura, certamente, inclui os Grupos onde Tudo Começa e Termina; por isso os Doze Conceitos estarem presentes no Grupo Os dois primeiros Conceitos são históricos; contam o porque da cadeia de representatividade expressa na
estrutura de serviços de A.A.. Lendo-os precisei reformular minha idéia de estrutura de A.A.; pois até então pensava que toda a responsabilidade pela continuidade de A.A. fosse dos Custódios ou da Conferência e não dos Grupos.
Mudei meu próprio conceito de Grupo e comecei a vê-lo como uma célula e com uma responsabilidade muito maior que pensava. Mais a frente notei, conversando com companheiros mais experientes, que alguns princípios podem ser aplicados por qualquer servidor de A.A . Este é o caso do Terceiro, Quarto e Quinto Conceitos, que falam dos direitos, utilizados como norte nas relações entre os serviços e a
consciência coletiva. Como desde o inicio sempre tentei servir não foi difícil compreender as qualidade de um bom líder, expressas por Bill W. no Nono Conceito. Notei que enquanto servidor ou liderança, seja no Grupo, no Distrito, no Setor, na Área ou na Conferência, fazendo a limpeza da sala, no trabalho com os outros, em fim, em qualquer atividade de serviços sempre precisarei melhorar e amoldar-me a essas características. Quando li o Décimo Conceito, imaginei uma
balança de dois pratos equilibrando a autoridade e a responsabilidade.
Lembrei-me do Coordenador Geral do Grupo em que cheguei. Como na maioria dos Grupos, ele é responsável por abrir a sala e cuidar dos preparativos para a reunião. Acontece que certa vez, o novo escolhido para o encargo fazia o café muito fraco, quase transparente. Segundo o equilíbrio, a ele concedemos a responsabilidade para fazer o café e a autoridade para optar sobre como iria fazê-lo (falamos com ele e o café melhorou). Continuei lendo os Conceitos quando um companheiro me sugeriu que o fizesse em conjunto com o Manual de Serviços, para melhor entendimento da Estrutura Nacional de A.A.. Isso foi porque quando me aprofundei no Sexto, Sétimo, Oitavo e principalmente no Décimo Primeiro e Décimo Segundo Conceitos, encontrei dificuldades de entendimento. Nessa altura eu já tinha o Manual de Serviços e, tentando fazer o sugerido, tive um enorme
avanço e meus porquês diminuíram. Foi tentando entender como funciona a Estrutura de Serviços que despertei para a expressa necessidade de voltar a estudar as Tradições, mais do que isso, senti que eu fazia parte de um grande todo e que tinha uma responsabilidade própria. Talvez foi esse entendimento aliado a necessidade de viver bem sem precisar beber que me fizeram mergulhar no modo de vida de A.A.; através da prática de Princípios Espirituais.

OS DIREITOS DE DECISÃO, PARTICIPAÇÃO, APELAÇÃO E PETIÇÃO

O Direito de Decisão torna possível uma diretriz positiva. Alguns destes princípios vêm sendo, há muito tempo, praticados em nível de grupo. Por exemplo, o Conceito III, “o Direito de Decisão”: “O nosso RSG, a ligação do grupo com a Conferência de Serviços Gerais e a Irmandade, leva a opinião do grupo às Assembléias do ESL, do Distrito, do Setor e da Área, mas tem o direito de tomar sua própria decisão: de outro modo, ele seria tão somente um mensageiro. Esse
Direito, todavia, não deve ser usado como desculpa para deixar de informar (apresentar relatórios de atividades), nem para exceder uma autoridade definida claramente. Somente ele nomeia comitês de serviços e Delegados, e estes por sua vez elegem os Delegados RSM e homologam os Custódios. Todo Programa de A.A. repousa no princípio da confiança. Confiamos em Deus, confiamos em A.A. e
confiamos uns nos outros. Por isso mesmo, temos que confiar em nossos líderes de Serviço. “Ou o Conceito IV, `O Direito de Participação’: “Somos todos iguais e temos o mesmo direito de participação em todos os níveis de serviço.” “Na corporação espiritual de A.A., não há membro de segunda classe”, no grupo em qualquer nível de serviço. Como conseqüência, “o Direito de Apelação e de
Petição”, como estabelecido no Conceito V, são essenciais para a paz e democracia em nossos grupos de A.A. Nós aceitamos e sabemos que as minorias podem freqüentemente estar certas (geralmente, estas são esclarecidas), e assim uma minoria bem ouvida é uma proteção contra a possibilidade de uma maioria mal-informada. Os Conceitos constituem Princípios que já se tornaram tradicionais para o nosso Serviço. Em nossos grupos, o espírito dos Conceitos
tem estado conosco por um bom tempo. Não obstante, temos um longo, mas agradável caminho a percorrer. A.A. é uma Irmandade de homens e mulheres que se reúnem em grupos para compartilhar suas experiências, forças e esperanças. O propósito primordial é levar a mensagem ao alcoólico que ainda sofre. O Livro Grande, os
Doze Passos e as Doze Tradições nos dão as respostas ligadas à recuperação e à unidade. Os Doze Conceitos para Serviços Mundiais, que são tão intimamente relacionados com os grupos pela simples razão de que eles foram escritos para os grupos, provêm os instrumentos para o Serviço e nos capacitam a realizar o nosso
Propósito Primordial.

A RESPONSABILIDADE FINAL

Quando, como estabelecido no Conceito II, os grupos de A.A. confirmaram a Carta Permanente da Conferência de Serviços Gerais, eles assim passaram esse ato para os grupos de A.A. presentes e futuros, por todo o mundo. Nós todos sabemos que os Doze Conceitos para os Serviços Mundiais foram adotados pela Conferência em 1962. Desde que “o novato de hoje é o veterano de amanhã, é imperativo encorajar todos os grupos de A.A. a compreender completamente e adotar os Doze Conceitos
como linha de ação para todo o trabalho em serviço de A.A., já que eles também nos dão as garantias para nossa verdadeira existência.

Isaias

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